Abre nesta terça-feira (5) no Edifício Il Centenário, a Exposição fotográfica “A Casa é um mar cheio de portos” da
fotojornalista Sirli Freitas. O projeto traz um olhar sensível voltado à
imigração e aos protagonistas do projeto: a comunidade haitiana de Chapecó. Contemplado
pelo Edital de Fomento e Circulação das Linguagens Artísticas de Chapecó e
patrocinado pela Nostra Casa Cultural, a mostra estará aberta à visitação de 6
a 18 deste mês, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30 às 18h.
Construído após uma
extensa pesquisa da fotógrafa e um interesse pessoal pelo processo de imigração.
“Era uma vontade antiga que eu tinha de fotografar os haitianos, sempre achei
um povo com características fortes e quando eles começaram a chegar em Chapecó
eu me perguntava como foi esse processo de chegada. Sempre quis entender e
saber sobre essas pessoas que ultrapassam fronteiras reconstruindo sua vida,
com a sua família, construindo a sua nova morada. Para desenvolver esse projeto
foram muitos processos e muitas barreiras, a começar pela língua. Aos poucos
nos inserimos nas comunidades pelas igrejas e pelas associações e iniciamos
essa pesquisa”, conta.
Profissões exercidas no
Haiti
Em um processo gradual surgiu o tema central das fotografias, considerado urgente pelas comunidades haitianas: as profissões que exerciam no Haiti e que aqui são absolutamente descartadas, por serem considerados analfabetos da língua portuguesa.
O resultado é uma
exposição composta por 14 fotografias, que trazem o olhar da fotógrafa, da
curadoria e das comunidades e retratam as profissões que os haitianos exerciam
antes de chegar ao Brasil. “A nossa preocupação sempre foi saber e retratar
como eles gostariam de ser vistos pela sociedade, dentro desta temática. E as
fotografias tentam mostrar que os haitianos são profissionais qualificados, com
duas ou três formações em áreas específicas e que podem contribuir muito mais
com a nossa cidade”, enfatiza Sirli.
De acordo com Sandra
Bordignon, pesquisadora na área da imigração na UFFS, a discussão levantada
pelo tema não é uma discussão de Chapecó, ela é mundial. “Você visualiza a mão
de obra qualificada e que não é aproveitada, de forma que nós temos muitos
imigrantes diplomados mas que enfrentam muitas barreiras. Quando levantamos
esses assuntos não queremos achar culpados mas reconhecer esse processo
histórico, conseguindo visualizar essa presença e criando políticas públicas
específicas para esse atendimento”, explica.
Integração
social
Para o haitiano Obenson
Maurice, 28 nos, auxiliar de produção, com formação técnica em engenharia civil
no Haiti, é preciso trabalhar a integração social. “Se você pesquisar mais de 50%
dos haitianos estão trabalhando como auxiliar de produção, mas será que não temos
capacidade para outras profissões? Claro que temos! Aos poucos nós vamos mudar
essa realidade. Eu estou estudando, conheço colegas que estão cursando uma
faculdade para mudar a nossa situação no País”, conta.
A ideia é ampliar a
circulação para outros espaços. “Queremos levar as fotografias para outros
espaços, inserir esta temática na rotina das pessoas e estimular o desenvolvimento
e a construção de um novo olhar sobre o outro”, finaliza Sirli.